A infraestrutura de nuvem e data centers no Brasil atravessa um ciclo histórico de expansão. O país atrai bilhões em investimentos de gigantes globais da tecnologia e se consolida como polo estratégico para o setor na América Latina. Esse movimento transforma a economia digital brasileira, gera milhares de empregos e posiciona o país na corrida global pela inteligência artificial.
Investimentos recordes chegam ao país
Empresas como Amazon, Microsoft e Oracle anunciam aportes bilionários no Brasil. A AWS, divisão de computação em nuvem da Amazon, confirmou investimento de R$ 10,1 bilhões até 2034. O montante se soma aos R$ 19,2 bilhões já aplicados entre 2011 e 2023. A Microsoft, por sua vez, destinou R$ 14,7 bilhões para infraestrutura de nuvem e IA nos próximos três anos.
Essas cifras impressionam. Mas o que está por trás desses números?
A resposta é simples: demanda crescente. Empresas de todos os setores migram operações para a nuvem. Bancos, varejistas, startups e governos precisam processar volumes gigantescos de dados. A inteligência artificial generativa amplia ainda mais essa necessidade.
Capacidade instalada cresce mais de 60%
A consultoria CBRE projeta que a América Latina encerrará 2025 com 340 MW adicionais em data centers. O Brasil responderá por 220 MW dessa expansão, representando 65% do total regional.
Os números ganham perspectiva quando comparados ao estoque atual. O país possui 595 MW instalados. A Mordor Intelligence estima que a capacidade brasileira alcançará 1.210 MW em 2029, partindo de 740 MW em 2024. Isso representa crescimento médio de 10,2% ao ano.
Grandes projetos transformam o cenário nacional
A Scala Data Centers lidera investimentos ousados no país. A empresa anunciou R$ 3 bilhões para a primeira fase da Scala AI City, em Eldorado do Sul, no Rio Grande do Sul. O complexo terá capacidade inicial de 54 MW, com potencial para atingir 4,7 GW.
Em Fortaleza, a Scala investe até R$ 1,5 bilhão em campus de data centers na Praia do Futuro. A primeira etapa, com cerca de R$ 250 milhões, será concluída no início de 2026. A localização estratégica da cidade, ponto de chegada de cabos submarinos internacionais, explica essa escolha.
A RT-One surpreendeu Uberlândia com anúncio de data center de 100 MW na primeira fase, com plano de expansão para 400 MW. Será o maior centro de inteligência artificial da América Latina, utilizando 100% de energia renovável.
Energia renovável como vantagem competitiva
O Brasil se destaca globalmente por sua matriz energética limpa. Quase 85% da energia produzida vem de fontes renováveis, segundo a Aneel. Isso atrai empresas que buscam cumprir metas de sustentabilidade.
Data centers de inteligência artificial consomem de 150 MW a 200 MW, contra 20 MW a 30 MW dos centros convencionais. A disponibilidade de energia limpa brasileira permite esse tipo de operação sem comprometer compromissos ambientais.
A AWS já viabilizou parque solar de 122 MW e parque eólico de 49,5 MW no país. Juntos, geram mais de 530 GWh anuais de energia limpa, suficiente para abastecer 100 mil residências.
Infraestrutura de nuvem reduz dependência externa
Entre 50% e 60% do processamento em nuvem das empresas brasileiras ainda ocorre no exterior, principalmente nos Estados Unidos. Essa dependência gera custos elevados de latência, riscos regulatórios e limitações tecnológicas.
A expansão local da infraestrutura muda esse cenário. Empresas como Nubank, iFood, Itaú e Petrobras já migraram operações críticas para data centers brasileiros. A latência menor garante respostas mais rápidas e experiências superiores aos usuários.
Fortaleza emerge como hub de conectividade
A capital cearense se transformou em ponto estratégico da internet brasileira. Cabos submarinos que ligam o Brasil à América do Norte, Europa e África chegam à cidade. A Praia do Futuro concentra essa infraestrutura crítica.
Para empresas de tecnologia, isso significa acesso privilegiado a rotas internacionais de dados. A Scala Data Centers estima que seu campus em Fortaleza gere 700 empregos durante as obras e 60 postos permanentes de alta qualificação.
Oracle e NetSuite ampliam presença local
A Oracle anunciou data centers da NetSuite no Brasil em outubro de 2025. A empresa passa a operar 35 data centers em 18 regiões e cinco continentes. A infraestrutura local reduz transferências transfronteiriças de dados e facilita conformidade regulatória.
A chegada de novos players intensifica a competição. Isso beneficia clientes com mais opções, preços competitivos e serviços especializados. A Tecto, ligada ao BTG, investe US$ 1 bilhão em novos projetos. A Ascenty aplica de R$ 1,2 bilhão a R$ 1,5 bilhão anuais em expansão.
Desafios ainda limitam crescimento do setor
Apesar do otimismo, obstáculos persistem. A transmissão de energia preocupa. Parques geradores concentram-se no Nordeste, longe dos principais data centers no Sudeste. Construir centros no Nordeste esbarra na falta de fibra óptica.
O custo de energia no Brasil permanece alto. Impostos elevados e burocracia complicam novos projetos. A taxa Selic de 14,75% encarece financiamentos. O setor precisa de capital para investimentos bilionários, recorrendo a empréstimos, private equity e operações estruturadas.
Regulação avança com cautela
O Senado aprovou em 2024 o Marco Legal da IA. A legislação busca garantir segurança jurídica e ética no uso da tecnologia. Enquanto o governo federal anunciou política nacional de data centers com desonerações fiscais.
Paulo Cunha, da AWS Brasil, vê a iniciativa com otimismo. “O desafio está na questão federativa. Precisamos negociar com cada estado. Esperamos que essa política permita alinhamento com o governo federal”, afirmou.
A regulação equilibrada pode acelerar investimentos, pois excesso de regras afasta capital. O setor aguarda definições claras sobre propriedade intelectual, transferência de dados e requisitos ambientais.
Capacitação profissional ganha prioridade
A demanda por profissionais qualificados cresce exponencialmente. A AWS já treinou 800 mil pessoas no Brasil desde 2017. A empresa firmou parcerias com o Ministério do Desenvolvimento Social para capacitar mulheres do Bolsa Família.
A meta é treinar 80 mil pessoas em fundamentos de nuvem até 2025. A Nexa Resources recebeu investimento de R$ 15 milhões da AWS para certificações em nuvem. Além disso, grupos como Boticário, Meta e Prefeitura de São Paulo participam de iniciativas de formação.
Mercado caminha para 2,6 GW até 2030
As projeções da CBRE indicam que a América Latina atingirá 2,6 GW de capacidade instalada em 2030. O Brasil liderará esse crescimento, consolidando-se como principal mercado regional.
Alison Takano, da CBRE, ressalta que os números podem ser maiores. “Isso depende da macroeconomia e do apetite das big techs para novos contratos na região”, explica.
O momento é promissor. A transformação digital acelera em todos os setores. Empresas que não adotam inteligência artificial perdem competitividade. Nesse sentido, data centers são a infraestrutura essencial para essa revolução.
Futuro promissor com desafios reais
A expansão da infraestrutura de nuvem no Brasil representa oportunidade histórica. O país possui energia limpa, território vasto e mercado consumidor significativo. Investimentos bilionários confirmam a confiança internacional.
Os desafios são reais. Energia, regulação e capacitação precisam de soluções coordenadas. Mas o movimento está em curso. O Brasil se posiciona como protagonista na economia digital global, atraindo tecnologia de ponta e gerando empregos qualificados.
A próxima década será decisiva. Em suma, o setor de data centers pode se tornar pilar estratégico da economia brasileira, impulsionando inovação, produtividade e inclusão digital em todo o território nacional.
Fontes: DCD, Prefeitura de Uberlândia, Moody’s Local Brasil, Telesíntese, NeoFeed, Blog Itaú BBA, Jornal do Comércio, UAI Notícias, Superfinanças, About Amazon Brasil, CNN Brasil, Exame, Mobile Time, Startupi












