O mercado financeiro brasileiro vive um momento de intensa antecipação. Com as eleições 2026 se aproximando, investidores já começam a precificar cenários políticos em suas carteiras. A queda de popularidade do presidente Lula, somada à inelegibilidade de Jair Bolsonaro, cria um vácuo de liderança que amplifica as incertezas sobre o futuro econômico do país.
Consequentemente, especialistas divergem sobre o timing ideal para ajustar investimentos com foco no pleito. Enquanto alguns analistas veem oportunidades claras, outros alertam ser prematuro. Neste contexto desafiador, entender os impactos políticos sobre ações, câmbio e juros torna-se fundamental para proteger o patrimônio e identificar oportunidades.
Volatilidade Eleitoral Domina Cenário de 2026
O ano de 2026 promete ser marcado por forte volatilidade na bolsa brasileira. O contexto eleitoral amplifica as oscilações de mercado, conforme apontou José Maurício Pimentel, economista-chefe da BB Asset. Segundo ele, ativos defensivos que pagam dividendos tendem a apresentar desempenho superior aos mais voláteis durante períodos eleitorais.
De fato, as eleições devem aquecer a economia nacional temporariamente. O aumento dos gastos públicos em estados e municípios para financiar campanhas pode impulsionar o crescimento de curto prazo. No entanto, essa expansão fiscal traz consigo preocupações sobre a sustentabilidade das contas públicas no médio prazo.
Ademais, pesquisas recentes mostram mudanças significativas no cenário político. Uma pesquisa Datafolha revelou a pior aprovação de Lula em seus três mandatos, com a rejeição superando a aprovação pela primeira vez. Contudo, levantamento posterior da Genial/Quaest indicou recuperação na avaliação do governo após as tarifas impostas pelos Estados Unidos sobre produtos brasileiros.
Trade Eleitoral Move Bilhões em Investimentos
O chamado “trade eleitoral” movimenta o mercado financeiro brasileiro com força crescente. De acordo com o analista Miguel Daoud, o mercado adota uma lógica pragmática: independentemente de quem vença, ajustes fiscais e reformas estruturais serão inevitáveis para garantir a estabilidade econômica.
Nesse sentido, as taxas de juros ocupam posição central nas discussões. Qualquer correção na política fiscal pode afetar diretamente a percepção de risco dos investidores. Atualmente, a Selic deve encerrar 2025 em torno de 15%, com projeções apontando para 12,5% ao final de 2026, segundo estimativas da BB Asset.
Por outro lado, a inflação permanece desancorada em relação à meta de 3% estabelecida pelo Banco Central. As expectativas da BB Asset indicam IPCA de 4,9% em 2025 e 4,4% em 2026. Já a Principal Asset Management projeta inflação de 5% neste ano e 3,9% no próximo, ressaltando que discussões fiscais profundas só ocorrerão após as eleições.
Dólar e Cenário Internacional Pressionam Brasil
O comportamento do dólar também reflete as tensões políticas domésticas. Após alcançar R$ 6,30 em momentos de maior incerteza, a moeda americana voltou a recuar com sinais de possível alternância de poder. A percepção de que um governo mais alinhado ao mercado pode assumir em 2027 aliviou temporariamente a pressão cambial.
Entretanto, o cenário internacional adiciona complexidade à equação. A política “America First” do presidente Donald Trump mantém o dólar forte globalmente, pressionando economias emergentes. Assim, o Brasil enfrenta depreciação cambial e alta nos custos de importação, fatores que alimentam a inflação doméstica.
Simultaneamente, as tarifas alfandegárias anunciadas por Trump afetam diretamente o agronegócio brasileiro. Com taxas protecionistas sobre produtos agrícolas, exportadores nacionais enfrentam barreiras crescentes no mercado americano. Consequentemente, setores como soja, café e carnes buscam alternativas em outros mercados.
Investidores Antecipam Posicionamento Estratégico para as Eleições 2026
Pesquisas com gestores revelam que 67% acreditam na vitória da oposição em 2026. Apenas 5% apostam na reeleição do governo atual, segundo levantamento realizado pelo Bradesco. Essa percepção já influencia as decisões de alocação de capital, especialmente em ações de empresas estatais.
Além disso, o Bradesco BBI identificou aumento no apetite de estrangeiros por papéis de estatais brasileiras. Empresas como Petrobras, Vale e Banco do Brasil atraem investidores por seus descontos em relação ao MSCI Brasil. No entanto, essa estratégia traz riscos caso o governo mantenha forte ingerência política nas companhias.
Por outro lado, alguns gestores alertam para a armadilha de agir prematuramente. Gilberto Kfouri, head de renda fixa da BNP Paribas Asset, defende que ainda é cedo para fazer trades eleitorais. Segundo ele, mudanças de governo não alteram tendências macroeconômicas de curto prazo, exigindo cautela dos investidores.
Setores Estratégicos Para Navegar Incertezas
Diante da volatilidade esperada, especialistas recomendam focar em setores resilientes. Bancos tradicionais como Itaú e Bradesco tendem a se beneficiar do ambiente de juros altos. Ademais, o setor de tecnologia, representado por empresas como Totvs, oferece receita recorrente com menor dependência do cenário político.
Da mesma forma, energias renováveis ganham destaque como opção defensiva. Companhias como Taesa e Engie apresentam menor vulnerabilidade às oscilações da economia doméstica. Portanto, investidores conservadores encontram nestes papéis proteção contra turbulências eleitorais.
Simultaneamente, o mercado recomenda evitar empresas muito alavancadas. Com juros elevados, negócios com dívidas significativas podem sofrer pressão nas margens. Assim, a análise criteriosa dos balanços patrimoniais torna-se essencial para identificar companhias saudáveis.
Reformas Estruturais Dependem do Resultado Eleitoral
O trade eleitoral reforça a importância de reformas consideradas essenciais. Entre as principais, destacam-se ajustes na Previdência e a reforma tributária já em andamento, que pode sofrer alterações dependendo da composição do próximo governo.
Nesse contexto, a clareza sobre propostas fiscais dos candidatos será determinante. O mercado busca sinais concretos sobre como cada candidato pretende equilibrar contas públicas. Portanto, quanto maior a transparência nos programas econômicos, menor a volatilidade esperada durante a campanha.
Entretanto, o histórico brasileiro mostra dificuldade em implementar reformas profundas. Independentemente do vencedor, a fragmentação parlamentar exigirá habilidade política para aprovar medidas impopulares. Consequentemente, investidores devem considerar cenários múltiplos em suas estratégias de longo prazo.
Gestores Divergem Sobre Timing de Posicionamento
Luis Stuhlberger, da Verde Asset, compara as eleições de 2026 às de 2014 em termos de polarização. Ele alertou que o resultado será “binário” e repleto de incertezas, citando a volatilidade de 150% de 2014 como referência.
Por sua vez, Christian Keleti, da AlphaKey Management, avalia que o rali recente da Bolsa teve pouco efeito das eleições, sendo motivado principalmente pelo cenário macro global.
Contudo, pesquisa do Bank of America indica que gestores começarão alocações focadas nas eleições a partir do quarto trimestre de 2025. Assim, o segundo semestre deve marcar o início efetivo do posicionamento estratégico para o pleito. Ademais, 83% dos entrevistados esperam Ibovespa acima de 140 mil pontos ao final de 2025.
Diversificação Como Estratégia Fundamental
Especialistas são unânimes em recomendar diversificação como proteção essencial. A distribuição de capital entre diferentes classes de ativos reduz o impacto de choques políticos específicos, oferecendo maior resiliência.
Além disso, títulos públicos mantêm atratividade com juros elevados no Brasil. O Tesouro Direto oferece rentabilidade real positiva, especialmente em papéis indexados à inflação. Consequentemente, investidores conservadores encontram refúgio sem abrir mão de ganhos interessantes.
Ao mesmo tempo, o mercado internacional apresenta alternativas relevantes. Com a possibilidade de dólar mais fraco globalmente e cortes de juros nos Estados Unidos, ativos americanos podem oferecer proteção cambial. Portanto, ETFs de ações americanas surgem como complemento estratégico para carteiras brasileiras.
Conclusão: Preparação e Paciência Definem Sucesso
O mercado financeiro brasileiro navega em águas turbulentas rumo a 2026. Enquanto alguns investidores já posicionam suas carteiras para o cenário eleitoral, outros preferem aguardar maior clareza. De fato, ambas as abordagens têm méritos.
Contudo, a certeza é que volatilidade acompanhará os próximos meses. Preparação adequada com carteiras diversificadas e horizontes de longo prazo oferece a melhor proteção.
Finalmente, o sucesso em períodos eleitorais exige disciplina emocional. Movimentos bruscos em resposta a notícias diárias tendem a prejudicar a rentabilidade de longo prazo. Assim, manter a estratégia fundamentada e evitar decisões impulsivas fará a diferença entre proteger e multiplicar patrimônio.
Fontes: MelhorInvestimento, MonitorMercantil, BMCNews, B3, NordInvestimentos 1, Pris, 99Economia, InteligenciaFinanceira, Contabeis, NordInvestimentos 2, Acionista 1, Acionista 2, InfoMoney, IdealXtremeGood













