O Bitcoin enfrenta um dos períodos mais turbulentos dos últimos meses. Nesta terça-feira, 18 de novembro de 2025, a maior criptomoeda do mundo aprofundou suas perdas e rompeu a barreira psicológica dos US$ 90 mil.
Durante a madrugada, o ativo atingiu a mínima de US$ 89.368, o menor valor desde 21 de abril. Após uma recuperação parcial, a cotação subiu para cerca de US$ 91.418, representando uma queda de aproximadamente 15% em relação aos preços de uma semana atrás.
Queda de 27% Desde o Recorde Histórico
A reversão começou após o Bitcoin estabelecer seu recorde de US$ 126.186 em 6 de outubro. Desde então, a criptomoeda perdeu mais de US$ 34.600 em valor, uma desvalorização superior a 27% em apenas 45 dias.
Esse cenário levou o ativo a apagar todos os ganhos acumulados em 2025. O Bitcoin volta a negociar abaixo do nível de fechamento do ano anterior. Apenas em novembro, a queda já ultrapassa 16%, consolidando um dos piores desempenhos mensais recentes.
O movimento de baixa ganhou força após 10 de novembro, quando o Bitcoin atingiu US$ 107.500. Em seguida, iniciou uma sequência de sete candles diários negativos em oito dias de negociação.
O Índice de Medo e Ganância, que mede o sentimento do mercado cripto, despencou para 14 pontos. O indicador agora sinaliza “medo extremo” entre os investidores.
Liquidações Bilionárias Pressionam o Mercado
Um dos fatores que amplificou a queda foram as liquidações massivas de posições alavancadas. Nesta terça-feira, o mercado de criptomoedas registrou liquidações superiores a US$ 1,03 bilhão, sendo US$ 570 milhões apenas em Bitcoin.
Este foi o terceiro dia em novembro em que as liquidações ultrapassaram US$ 1 bilhão e o quarto dia com perdas acima de US$ 500 milhões. Essas liquidações ocorrem quando traders que operam com margem precisam encerrar suas posições devido à volatilidade, criando um efeito cascata de vendas.
Durante a primeira semana de novembro, fundos focados em criptomoedas registraram saídas líquidas recordes de US$ 1,2 bilhão. Os níveis excessivos de alavancagem utilizados durante essas saídas institucionais complicam ainda mais a situação.
Quando isso se combina com baixo volume de negociações, as oscilações de preço tornam-se violentas e o mercado fica “hipersensível” a movimentações.
ETFs de Bitcoin Perdem US$ 254 Milhões em Um Dia
Os fundos negociados em bolsa de Bitcoin nos Estados Unidos também contribuíram para o cenário negativo. Na segunda-feira, 17 de novembro, os ETFs tiveram saídas líquidas de US$ 254,6 milhões.
O IBIT da BlackRock, maior ETF de Bitcoin do mundo, registrou saídas de US$ 145,6 milhões. Desde meados de julho, investidores institucionais retiraram mais de US$ 4 bilhões através desses veículos de investimento, combinando Bitcoin e Ethereum.
Essa tendência representa uma reversão significativa em relação ao início do ano, quando os ETFs de Bitcoin acumularam entradas superiores a US$ 25 bilhões. Esse fluxo impulsionou o rali que levou o ativo à máxima histórica.
Analistas consideram a perda desse suporte institucional como um dos pilares que sustentavam o mercado altista.
Detentores de Longo Prazo Vendem 1 Milhão de Bitcoins
Dados da blockchain revelam que detentores de longo prazo e baleias continuam vendendo suas posições. Desde meados de julho, esse grupo distribuiu cerca de 1 milhão de Bitcoins, com movimentações diárias totalizando em torno de US$ 2,5 bilhões.
Entre os dias 13 e 18 de novembro, aproximadamente 16 mil unidades de Bitcoin foram enviadas para exchanges, representando cerca de US$ 1,4 bilhão. Isso indica forte pressão vendedora.
Esses movimentos seguem padrões históricos de picos do mercado altista, quando investidores que acumularam o ativo durante períodos de baixa decidem realizar seus lucros. A diferença desta vez é que os compradores institucionais, que antes sustentavam todas as quedas, não estão mais presentes com a mesma intensidade.
Fatores Macroeconômicos Pesam Sobre o Bitcoin
O contexto macroeconômico global também contribui para o pessimismo. As tensões comerciais internacionais afetam todos os ativos de risco, enquanto temores inflacionários e possibilidade de recessão pesam sobre o Bitcoin.
A correlação da criptomoeda com empresas do setor de tecnologia intensificou as perdas, especialmente após as quedas recentes das big techs na bolsa norte-americana.
Analistas apontam que a expectativa em torno da política monetária do Federal Reserve adiciona incerteza ao mercado. A menor liquidez esperada devido às dúvidas sobre os próximos passos do banco central americano pesa sobre os criptoativos.
Eventos importantes como o relatório de emprego dos EUA e os resultados financeiros de empresas como a Nvidia são acompanhados de perto pelos investidores.
O recente shutdown do governo dos Estados Unidos também gerou instabilidade. Com 36 dias, tornou-se o mais longo da história. Embora tenha sido encerrado, os atrasos em legislações sobre a estrutura regulatória do mercado cripto expuseram fragilidades dos sistemas centralizados.
Análise Técnica: Próximos Suportes e Resistências
Do ponto de vista técnico, o Bitcoin rompeu importantes suportes. No curto prazo, o ativo perdeu a região dos US$ 100 mil e formou um padrão de cabeça e ombros, que tradicionalmente sinaliza continuidade de baixa.
Para retomar força compradora, será necessário superar inicialmente a faixa dos US$ 96.846 a US$ 99.700. Acima desses níveis, os primeiros alvos relevantes passam a ser US$ 106.011 e US$ 111.592.
Caso o movimento vendedor predomine, os próximos suportes aparecem entre US$ 91.220 e US$ 88.765. Especialistas alertam que a perda do suporte crucial de US$ 90 mil pode trazer consequências sérias.
Nesse caso, uma correção mais profunda em direção aos US$ 89 mil ou até US$ 85 mil torna-se provável. Alguns analistas mencionam que o Bitcoin pode testar a região entre US$ 95 mil, que seria uma zona de resistência imediata.
O gráfico semanal mostra três semanas consecutivas de queda, reforçando a deterioração da estrutura altista. Para que o ativo volte a construir um movimento sustentável no médio prazo, será necessário observar entrada consistente de volume comprador e a reconquista dos US$ 100 mil.
Especialistas Dividem-se Sobre o Futuro do Bitcoin
Apesar do cenário negativo de curto prazo, especialistas mantêm visões divergentes sobre o futuro do Bitcoin. Alguns analistas argumentam que a tese de médio e longo prazo permanece intacta, já que a regulação está avançando e as métricas de adoção crescem.
Eles acreditam que pode levar algumas semanas para os fluxos se reequilibrarem, como já ocorreu em episódios anteriores. Os níveis atuais já parecem mais atrativos para acumulação, segundo essa visão.
Outros profissionais são mais cautelosos. Guilherme Prado, country manager da Bitget, afirma que o preço precisaria fechar acima de US$ 105 mil para que um movimento de recuperação ganhasse tração. Abaixo desse patamar, cresce o risco de uma nova queda.
Ana de Mattos, analista da Ripio, destaca que não houve gatilho macroeconômico específico. O movimento reflete principalmente ajuste de posições e realização de lucros.
André Franco, CEO da Boost Research, menciona que a faixa provável de oscilação situa-se entre US$ 92 mil e US$ 99 mil. Existe possibilidade de recuo para os suportes próximos de US$ 90 mil caso surjam novos elementos de risco.
Rachel Lin, cofundadora da SynFutures, sugere que novembro provavelmente trará consolidação ou recuperação modesta, mas apenas na ausência de um forte catalisador. Ela projeta que o suporte precisa se manter acima de US$ 110 mil para haver recuperação de 10% a 20% em direção a US$ 120 mil até o final do mês.
Bitcoin Entrou em Mercado Baixista ou É Apenas Correção?
A questão que domina as discussões é se o Bitcoin entrou em um mercado baixista estrutural ou se é apenas uma correção saudável dentro de um ciclo altista maior.
Defensores da primeira hipótese apontam o descompasso entre oferta e demanda, além das saídas institucionais e vendas de detentores de longo prazo. Isso sinalizaria esgotamento do movimento de alta iniciado em 2023.
Por outro lado, há quem argumente que o mercado está passando por uma rotação natural, em que investidores que compraram em níveis mais baixos realizam lucros. Isso abre espaço para novos participantes entrarem em patamares mais acessíveis.
Historicamente, o Bitcoin apresenta ciclos de quatro anos relacionados ao halving, a redução pela metade da recompensa dos mineradores. Portanto, 2025 ainda estaria dentro do período tipicamente altista desse ciclo.
Paulo Cunha, CEO da iHUB Investimentos, observa que o Bitcoin criou uma correlação muito forte com empresas de tecnologia. A depreciação está relacionada ao temor com o patamar dos preços de ativos, principalmente do setor tech.
Ele menciona que a institucionalização do mercado está criando um ambiente para grandes players entrarem, o que pode levar a novos padrões de movimento.
O Que Esperar dos Próximos Dias
O Bitcoin atravessa um momento crítico após perder mais de 27% desde sua máxima histórica em outubro. Com liquidações bilionárias, saídas massivas de ETFs e realização de lucros, o mercado enfrenta forte pressão vendedora.
O rompimento do suporte de US$ 90 mil intensifica as preocupações sobre a possibilidade de uma correção mais profunda. A natureza volátil do mercado de criptomoedas torna qualquer previsão incerta.
Enquanto alguns investidores veem o momento atual como uma oportunidade de acumulação, outros alertam para os riscos de continuidade da queda. Os próximos dias serão cruciais para determinar se o Bitcoin conseguirá se recuperar e retomar a trajetória altista ou se aprofundará ainda mais as perdas.
Para os investidores, o momento exige cautela e análise criteriosa dos fundamentos, além de gestão adequada de risco. Como sempre no mercado de criptoativos, é essencial lembrar que a volatilidade é inerente ao setor.
Investimentos devem ser feitos apenas com capital que se pode perder, sem comprometer a saúde financeira pessoal.
Fontes: Exame, CriptoFácil, Poder360, Cointelegraph Brasil, InfoMoney, 99Bitcoins Brasil












