A Ibovespa sofreu uma reviravolta histórica no dia 05 de dezembro de 2025. O principal índice da bolsa brasileira despencou 4,31%, fechando aos 157.369 pontos. Essa foi a maior queda registrada desde fevereiro de 2021, segundo dados da Elos Ayta.
O movimento pegou o mercado de surpresa. Durante a manhã, o índice havia tocado máximas históricas, superando os 165 mil pontos pela primeira vez. Mas tudo mudou rapidamente após o início da tarde.
Ibovespa: do recorde à queda brusca
Pela manhã, investidores celebravam. A Ibovespa atingiu 164.998 pontos, renovando recordes pelo quarto dia consecutivo. O otimismo vinha dos dados de inflação dos Estados Unidos e das expectativas de corte de juros pelo Federal Reserve.
Porém, por volta das 14h26, o cenário virou completamente. O índice começou a despencar de forma acentuada. A inversão coincidiu com notícias do campo político brasileiro que desagradaram profundamente o mercado financeiro.
A informação que abalou os investidores foi sobre o cenário eleitoral de 2026. O ex-presidente Jair Bolsonaro teria decidido apoiar seu filho, o senador Flávio Bolsonaro, como candidato à Presidência da República.
Mercado reage ao cenário político
Essa decisão política gerou forte aversão ao risco entre investidores. A percepção do mercado é clara: a candidatura de Flávio Bolsonaro manteria a polarização política no país. Além disso, muitos analistas consideram que reformas econômicas ficariam mais distantes.
Outro ponto crucial é a competitividade eleitoral. Investidores avaliam que, em um eventual segundo turno contra o presidente Lula, Flávio seria menos competitivo que outros nomes da centro-direita. Governadores como Tarcísio de Freitas eram vistos como mais palatáveis ao mercado.
“O mercado é apolítico, o que ele precifica é taxa de juros e o quanto isso afeta os ativos de risco”, explicou o analista da Davos Investimentos. Quando surge um movimento que divide a oposição e enfraquece quem pode trazer austeridade fiscal, o mercado reage negativamente.
Ações brasileiras em queda generalizada
As ações brasileiras sofreram perdas expressivas ao longo do pregão. As estatais lideraram as quedas, com destaque para Banco do Brasil e Petrobras.
O Banco do Brasil (BBAS3) despencou 7,06%, fechando a R$ 21,16. Os papéis da Petrobras (PETR4) recuaram 3,54%, encerrando a R$ 31,37. Juntas, as duas empresas perderam impressionantes R$ 26,9 bilhões em valor de mercado.
Estatais como essas funcionam como termômetros políticos. A maioria dos investidores as considera beneficiadas por um governo de centro-direita comprometido com responsabilidade fiscal. Com a nova configuração política, essa expectativa se desfez rapidamente.
Outros papéis também sofreram
Vale (VALE3) recuou 2,36%, arrastada pela piora no humor dos investidores. Os grandes bancos também amargaram quedas significativas. Bradesco (BBDC4) caiu 5,9%, enquanto Itaú (ITUB4) perdeu terreno no pregão.
O setor de educação também foi duramente atingido. Yduqs (YDUQ3) desabou 10,84%, liderando as perdas do índice. Ações sensíveis a juros estiveram entre as mais pressionadas, refletindo a disparada das taxas dos contratos de DI.
B3 (B3SA3), a própria bolsa de valores, caiu 7%. Rede D’Or (RDOR3) recuou 6,4%. A lista de perdas foi extensa e generalizada.
Dólar dispara com a turbulência
O dólar acompanhou o movimento de aversão ao risco. A moeda americana disparou 2,34%, fechando a R$ 5,4346. Foi o maior avanço percentual desde outubro de 2025, quando o mau humor com a política fiscal do governo já havia pressionado os mercados.
Antes da notícia política, o dólar operava próximo de R$ 5,31. Com a mudança de cenário, a moeda ganhou força rapidamente. O movimento reflete a fuga de investidores para ativos mais seguros diante das incertezas.
Volatilidade deve continuar
Analistas avaliam que a tendência agora é de aumento da volatilidade. À medida que o mercado ajusta suas expectativas para o ciclo eleitoral de 2026, os movimentos bruscos devem se tornar mais comuns.
“A tendência daqui para frente é de aumento de volatilidade à medida que o mercado ajusta suas expectativas para o ciclo eleitoral”, afirmou Eduardo Rahal, analista-chefe da Levante Inside Corp. Os agentes estão recalibrando cenários e incorporando maior incerteza política.
O volume financeiro do pregão disparou para R$ 44,3 bilhões, bem acima da média diária de R$ 24 bilhões no ano. Isso demonstra a intensidade das movimentações e o nervosismo dos investidores.
Impacto nos ganhos semanais
Com essa queda expressiva, a primeira semana de dezembro terminou negativa. O índice acumulou perda de 1,07% no período, revertendo ganhos anteriores de mais de 3%. Mesmo assim, no acumulado do ano, a Ibovespa ainda registra alta de 30,83%.
O estrategista Ricardo Pompermaier, da Davos Investimentos, reforçou que os mercados pioraram após a sinalização da candidatura de Flávio Bolsonaro. A escolha afetou diretamente as expectativas sobre a condução da política econômica nos próximos anos.
Contexto macroeconômico
Antes do anúncio político, o dia estava sendo positivo para os ativos brasileiros. O mercado repercutia bem os dados do PCE americano, índice de inflação acompanhado pelo Federal Reserve. O indicador veio em linha com as expectativas, reforçando apostas de corte de juros nos Estados Unidos.
No Brasil, o PIB do terceiro trimestre veio abaixo do esperado, com crescimento de apenas 0,1%. O resultado fraco levou investidores a aumentarem apostas de queda da Selic em janeiro de 2026, movimento que contrasta com a postura mais conservadora do Banco Central.
Esse cenário técnico favorável foi completamente anulado pelo noticiário político. O episódio mostra como fatores não econômicos podem impactar drasticamente os mercados financeiros em um curto espaço de tempo.
Perspectivas para o futuro
Apesar da forte correção, alguns analistas mantêm visão positiva para o longo prazo. O Itaú BBA afirmou em relatório que caminhamos não apenas para um rali de fim de ano, mas também de início de 2026. Contudo, essa visão foi elaborada antes dos eventos de sexta-feira.
Agora, a incerteza política se soma aos desafios econômicos existentes. A taxa Selic permanece em 15% ao ano, pressionando ativos de risco. O cenário fiscal continua sendo motivo de preocupação entre investidores.
O episódio do dia 05 de dezembro serve como alerta. Mesmo com fundamentos econômicos relativamente estáveis, o mercado brasileiro permanece vulnerável a choques políticos. A polarização e as incertezas eleitorais podem gerar movimentos bruscos e imprevisíveis.
Investidores agora aguardam os próximos capítulos da corrida presidencial. Cada movimento político será observado com lupa pelos mercados. A volatilidade deve ser a palavra-chave para os próximos meses, especialmente conforme 2026 se aproxima.
Fontes: CNN Brasil, IstoÉ Dinheiro, Exame, InfoMoney, B3, Investidor10, Money Times












