Endividamento das famílias atinge 79,2% em 2025

O endividamento das famílias brasileiras alcançou 79,2% em novembro de 2025, um dos mais elevados desde 2010. Empresas também...

O endividamento das famílias brasileiras alcançou 79,2% em novembro de 2025, marcando um dos patamares mais elevados desde 2010. Mesmo com uma leve queda de 0,3 ponto percentual em relação ao mês anterior, quando bateu recorde de 79,5%, o cenário continua preocupante.

Essa situação coloca milhões de brasileiros em posição vulnerável. A combinação de juros nas alturas, inflação persistente e crédito restritivo pressiona duramente o orçamento doméstico. Segundo a Confederação Nacional do Comércio, 30% das famílias estão inadimplentes em novembro de 2025.

Selic em 15% pressiona orçamento familiar

A taxa Selic permanece em 15% ao ano desde junho de 2025, o maior nível em quase 20 anos. Essa taxa elevada encarece o crédito e torna o pagamento das dívidas existentes cada vez mais difícil.

As famílias brasileiras comprometem cerca de 29,5% da renda com o pagamento de dívidas. Para aqueles com menor poder aquisitivo, ganhando até três salários mínimos, o cenário é ainda mais delicado: mais de 80% apresentam algum tipo de endividamento.

O cartão de crédito segue como principal vilão. Atualmente, 83,6% dos endividados possuem dívidas nessa modalidade. Em seguida, aparecem os carnês de lojas com 17,2% e o crédito pessoal com 10,6%.

Inadimplência bate novo recorde histórico

A inadimplência tornou-se um dos maiores alertas para 2025. Quase 77 milhões de consumidores têm dívidas em atraso, segundo dados da Serasa Experian divulgados em maio de 2025.

Outro dado alarmante: 12,9% das famílias endividadas em novembro afirmam não ter condições de pagar suas dívidas vencidas. Embora represente queda em relação a outubro, quando atingiu 13,2%, o percentual ainda é extremamente elevado.

A percepção das famílias sobre seu próprio endividamento também mudou. Segundo a pesquisa da CNC, 16% dos brasileiros se consideram “muito endividados” em novembro de 2025. Por outro lado, 32,8% se veem como “pouco endividados”.

Empresas enfrentam endividamento e inadimplência

O endividamento das empresas atingiu níveis sem precedentes em 2025. Em agosto, 8,1 milhões de CNPJs estavam negativados, configurando o maior número da série histórica da Serasa Experian.

As micro e pequenas empresas representam a imensa maioria dos inadimplentes. São 7,7 milhões de MPEs com dívidas em atraso, acumulando R$ 174,1 bilhões em débitos. Cada empresa inadimplente deve, em média, R$ 24.631,20.

O setor de serviços concentra 52,8% das empresas endividadas, seguido pelo comércio com 35%. Essa distribuição reflete como a economia brasileira sofre de forma generalizada com o aperto monetário.

Recuperações judiciais explodem em 2025

Os pedidos de recuperação judicial cresceram 61,8% em 2024, alcançando 2.273 solicitações. Esse é o maior volume desde o início da série histórica em 2006. A tendência continua forte em 2025, com as empresas tentando evitar falências através da reorganização financeira.

A economista Camila Abdelmalack, da Serasa Experian, aponta que o problema está diretamente relacionado à escassez de crédito e às dificuldades de fluxo de caixa. As altas taxas de juros deixam a negociação mais cara e mais difícil.

Causas do cenário crítico atual

Diversos fatores contribuem para essa tempestade perfeita. A inflação corrói o poder de compra das famílias enquanto os salários não acompanham o aumento dos preços. Simultaneamente, a Selic elevada encarece empréstimos e financiamentos.

Daniel Bergmann, professor da FEA-USP, explica que a última década foi marcada por crises sobrepostas. A recessão de 2015-2016, o choque da pandemia em 2020 e o ciclo inflacionário recente deixaram um legado pesado: famílias asfixiadas e crédito caro que inibe o consumo.

A expansão dos bancos digitais e a facilidade na emissão de cartões a partir de 2018 também contribuíram. Muitas pessoas sem educação financeira adequada acabaram contraindo dívidas superiores à sua capacidade de pagamento.

Projeções sinalizam manutenção dos desafios

As perspectivas para o fechamento de 2025 apontam manutenção dos desafios. A CNC espera que o endividamento continue elevado, com leve recuo em dezembro devido ao pagamento do 13º salário. Ainda assim, o ano deve encerrar com famílias significativamente mais endividadas e inadimplentes que em 2024.

O mercado financeiro projeta que a Selic permanecerá em 15% até dezembro de 2025. Essa persistência dos juros elevados deve continuar pressionando tanto famílias quanto empresas ao longo dos próximos meses.

Para 2026, existe expectativa de que a taxa básica de juros comece a cair, chegando a 12,5% ao final do ano. No entanto, essa redução gradual pode não ser suficiente para aliviar rapidamente a situação de milhões de endividados.

Impactos na economia como um todo

O alto nível de endividamento e inadimplência gera efeitos em cadeia na economia. Bancos e instituições financeiras tendem a endurecer critérios de concessão de crédito, criando um ciclo vicioso que dificulta ainda mais o acesso ao financiamento.

Esse cenário impacta diretamente a expansão de negócios e o investimento produtivo. Com menos crédito disponível e mais caro, empresas de todos os portes enfrentam dificuldades para crescer, investir em inovação ou até mesmo manter suas operações.

O desemprego tende a subir nesse contexto. Empresas com dificuldades financeiras podem demitir funcionários, fechar unidades ou encerrar completamente suas atividades. Isso cria mais desemprego e, consequentemente, mais inadimplência.

Medidas necessárias para reverter quadro

Especialistas defendem um conjunto de ações coordenadas para enfrentar essa crise. No curto prazo, programas de renegociação de dívidas com condições acessíveis são fundamentais. Iniciativas como o Desenrola ajudaram, mas precisam de continuidade e ampliação.

A educação financeira aparece como prioridade no médio e longo prazos. Ensinar as pessoas a gerenciar melhor seu orçamento, evitar o uso excessivo do crédito e planejar compras pode prevenir novos ciclos de endividamento.

Para as empresas, políticas públicas eficazes de reestruturação de dívidas são essenciais. Linhas de crédito com melhores condições, especialmente para micro e pequenos negócios, podem ajudar a evitar falências e preservar empregos.

Conclusão

O Brasil atravessa um momento crítico em relação ao endividamento das famílias e empresas em 2025. Com 79,2% das famílias endividadas, 77 milhões de consumidores inadimplentes e 8,1 milhões de empresas negativadas, o país enfrenta um dos piores cenários financeiros de sua história recente.

A manutenção da Selic em 15% ao ano até dezembro, combinada com inflação persistente e crédito restritivo, mantém a pressão sobre brasileiros e empresários. A situação demanda ações urgentes e coordenadas entre governo, instituições financeiras e sociedade.

Somente com políticas públicas efetivas, maior conscientização sobre gestão financeira e melhoria do ambiente econômico será possível reverter essa trajetória preocupante. O desafio é imenso, mas necessário para construir um futuro financeiro mais sustentável para todos os brasileiros.

Fontes: Diário do Grande ABC, Fenacor, Diário do Poder, Jornal da USP, CNN Brasil, JD1 Notícias, ADVFN News, Gazeta do Povo, InfoMoney, Fecomercio, Serasa Experian, Neofin, Nubank, Agência Brasil

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