A nova isenção de IR chegou. O presidente Lula sancionou na quarta-feira (26/11) a lei que amplia a faixa de isenção do Imposto de Renda para quem ganha até R$ 5 mil por mês. A medida beneficia cerca de 15 milhões de brasileiros e promete movimentar a economia do país.
Como funciona a nova isenção de IR
No total, cerca de 15 milhões de brasileiros vão deixar de pagar imposto de renda com a nova lei, sendo 10 milhões que passarão a ser isentos e outros 5 milhões que contarão com redução no imposto. As mudanças começam a valer em janeiro de 2026.
Quem recebe até R$ 5 mil mensais terá isenção total. Já para salários entre R$ 5.000,01 e R$ 7.350, haverá descontos parciais. Quem recebe até R$ 5.500 terá 75% de desconto no imposto; até R$ 6 mil, a redução será de 50%; e até R$ 6.500, de 25%.
A medida representa um ganho real no bolso do trabalhador. O Ministério da Fazenda estima que os beneficiados pela isenção podem economizar até R$ 4.356 ao ano, enquanto contribuintes nas faixas intermediárias poderão poupar de R$ 1.300 a R$ 3.300, a depender da renda.
Nova isenção de IR: compensação para altas rendas
Para manter o equilíbrio das contas públicas, o governo criou uma compensação. A nova lei aumenta a taxação de altas rendas, a partir de R$ 600 mil anuais. A estimativa é de que este aumento da carga alcance 140 mil brasileiros de alta renda.
A cobrança é progressiva e pode chegar a 10% para quem ganha acima de R$ 1,2 milhão por ano. Quem já paga essa alíquota ou mais não terá mudanças. Alguns tipos de rendimentos não entram nessa conta, como ganhos de capital, heranças, doações, rendimentos recebidos acumuladamente, além de aplicações isentas, poupança, aposentadorias por moléstia grave e indenizações.
Impactos da nova isenção de IR na inflação
A isenção pode gerar efeitos na inflação brasileira. Segundo a consultoria M4 Intelligence, a medida deve proporcionar R$ 40 bilhões por ano de rendimentos adicionais aos trabalhadores beneficiados pela nova regra, que têm alta propensão ao consumo.
Com mais dinheiro disponível, o consumo tende a aumentar. Nas simulações feitas pela M4 Intelligence, se 100% do ganho extra for para o consumo, haverá um impacto positivo sobre o crescimento do PIB do ano que vem de 0,2 ponto porcentual. Já para a inflação, haveria um aumento de 0,3 ponto porcentual em 2026 e de 0,6 ponto em 2027.
Nem todos os especialistas concordam com esse cenário. O diretor técnico adjunto do Departamento Intersindical de Estatística e Estudos Socioeconômicos (Dieese), Victor Pagani, avalia que a inflação não será problema, pois “está sob controle” e em processo de “desaceleração”.
Um possível efeito colateral seria a inflação localizada em alguns setores. Pedro Humberto de Carvalho, do Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada (Ipea), não descarta a possibilidade de haver inflação localizada. “Toda vez que há maior renda disponível para a população tem de se aumentar o consumo por serviços”, como comércio, educação, saúde, tecnologia da informação e turismo.
Reflexos nos juros com a nova medida
A taxa de juros também pode ser afetada pela isenção. A taxa de juro anual no fim de 2026, por sua vez, poderá ficar 0,9 ponto porcentual acima do esperado, e a de 2027, de um acréscimo 0,5 ponto.
O Banco Central precisará avaliar os efeitos sobre a economia. Se o consumo disparar e pressionar a inflação, o BC pode manter os juros elevados por mais tempo. Isso impactaria o crédito e os financiamentos para famílias e empresas.
Mais dinheiro para investimentos
A isenção pode estimular o mercado de investimentos no país. Com menos desconto na fonte, os trabalhadores terão mais recursos disponíveis mensalmente. Esse dinheiro extra pode ser direcionado para aplicações financeiras.
Nas contas de Pedro Humberto de Carvalho, do Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada (Ipea), os estratos inferiores da classe média deverão dispor de mais R$ 350 a R$ 550 mensais, em média. “Vai ser uma folga orçamentária considerável”, opina.
Parte desse valor tende a ser poupado ou investido. O brasileiro que antes comprometia o salário com impostos agora pode construir reservas financeiras. Isso fortalece o mercado de capitais e diversifica as fontes de investimento da economia.
O investidor pessoa física conta com várias opções isentas de IR. Entre elas estão as LCIs e LCAs, CRIs e CRAs, debêntures incentivadas e fundos imobiliários. Esses produtos podem se tornar ainda mais atrativos com a renda extra disponível.
Redução da desigualdade social
A medida busca corrigir distorções históricas no sistema tributário brasileiro. O ministro da Fazenda, Fernando Haddad, ressaltou o impacto da proposta sobre a desigualdade de renda. “O Brasil possui uma desigualdade pior do que a de 47 países da África”.
Victor Pagani acredita que outro efeito mais provável é bastante desejável: diminuição da desigualdade econômica ao isentar os menores rendimentos de impostos e passar a cobrar tributos dos mais ricos. “Essa medida resgata o princípio constitucional da tributação de acordo com a capacidade contributiva”, argumenta.
A tabela do IR estava defasada há décadas. Segundo estudo do Sindifisco Nacional, a defasagem média da tabela do IR foi de 154,49% no período entre 1996 e 2024. Isso significava que muitos trabalhadores pagavam proporcionalmente mais impostos do que deveriam.
Efeitos no consumo e endividamento
Os brasileiros poderão usar o dinheiro extra de diferentes formas. O economista João Leme, da Consultoria Tendências, estima que o Produto Interno Bruto (PIB) ganhará impulso de 0,15 a 0,2 ponto percentual. No bolso dos trabalhadores, o impacto será “de um 14º salário, mas distribuído todos os meses do ano”.
Muitas famílias devem usar a renda extra para quitar dívidas. O endividamento das famílias brasileiras permanece elevado, e a isenção pode oferecer fôlego para reorganizar as finanças.
O setor produtivo vê a medida com bons olhos. O diretor de Economia da Confederação Nacional da Indústria (CNI), Mário Sérgio Telles, avalia que a menor cobrança de imposto será incentivo à demanda. “Pessoas nessa faixa de rendimento tendem a ter uma propensão a consumir maior”.
Próximos passos
A lei foi aprovada por unanimidade tanto na Câmara quanto no Senado. Isentar brasileiros que ganham até R$ 5 mil por mês da cobrança do Imposto de Renda foi uma promessa de campanha do presidente Lula. O projeto que culminou na lei sancionada hoje chegou ao Congresso Nacional em março deste ano.
O governo já planeja novos ajustes no sistema tributário. A correção automática da tabela pela inflação pode ser implementada nos próximos anos, evitando que a defasagem se repita.
Os brasileiros devem sentir os efeitos práticos da medida a partir de janeiro de 2026. O desconto deixará de ser retido na fonte, aumentando o salário líquido dos trabalhadores beneficiados. Para quem recebe até R$ 5 mil, isso representa um ganho mensal que pode fazer diferença no orçamento familiar.
Fontes: Ministério da Fazenda, Agência Brasil, Senado Notícias, Planalto, Câmara dos Deputados, Metrópoles, InfoMoney, Terra, Bloomberg Línea













