O Federal Reserve reduziu a taxa básica de juros dos Estados Unidos em 0,25 ponto percentual no fim de outubro de 2025. Com isso, a taxa passou para o intervalo entre 3,75% e 4% ao ano, o menor nível desde novembro de 2022. O movimento, que marca mais um capítulo em que o Fed corta juros, veio acompanhado de declarações do presidente Jerome Powell que geraram dúvidas sobre o rumo da política monetária.
Fed corta juros em meio ao shutdown e divisão interna
O corte veio em linha com as projeções do mercado: investidores apontavam 97,8% de probabilidade de redução antes do anúncio. Ainda assim, a votação mostrou um comitê dividido.
Stephen Miran, indicado por Donald Trump, defendeu um corte de 0,50 ponto percentual. Já Jeffrey Schmid, presidente da distrital de Kansas City, votou pela manutenção em 4,25%. A divergência revela diferenças significativas sobre o ritmo adequado de afrouxamento monetário.
A decisão ocorreu durante o 29º dia de paralisação do governo americano, o que impediu o acesso a dados oficiais de emprego. Para avaliar a economia, o Fed precisou recorrer a fontes privadas e levantamentos regionais.
Powell adota tom cauteloso e derruba o otimismo dos mercados
As declarações de Powell após a reunião mudaram o sentimento dos investidores. As bolsas de Nova York abriram em alta, mas inverteram o movimento durante a coletiva, levando o Dow Jones e o S&P 500 a recuarem.
Powell afirmou que não há garantia de novo corte em dezembro. Segundo ele, os dirigentes possuem visões muito diferentes sobre a próxima decisão. Metade do comitê acredita na necessidade de dois cortes até o fim do ano; a outra metade entende que não há espaço para avançar.
Se a decisão fosse tomada naquele momento, a tendência seria manter a taxa atual. Powell reforçou que a política monetária não segue trajetória predefinida.
Fed decide encerrar a redução do balanço patrimonial
Outra surpresa foi o anúncio de que o Fed encerrará a redução de seu balanço no fim de novembro. Após atingir quase US$ 9 trilhões em 2022, o balanço está sendo normalizado desde 2023 e deve estabilizar em torno de US$ 6 trilhões, ainda acima do nível pré-pandemia.
A medida aumenta a liquidez na economia e pode compensar parcialmente o tom mais conservador sobre cortes futuros, funcionando como um estímulo indireto.
Decisão tomada sem dados oficiais do governo
O shutdown suspendeu a divulgação de vários indicadores, incluindo o relatório de empregos de setembro — um insumo central para o Fed. A instituição precisou se apoiar em dados privados e informações das distritais regionais. Apenas os dados de inflação foram divulgados.
Powell destacou que o comitê continua focado nos indicadores de inflação e mercado de trabalho, independentemente da fonte, e que a paralisação do governo não altera a estratégia de política monetária.
Mercado de trabalho segue resiliente
Mesmo com limitações de dados, os sinais indicam um mercado de trabalho ainda forte. A taxa de desemprego permanece em 4,2%, embora haja sinais de menor dinamismo.
Parte dessa desaceleração decorre da queda no ritmo de imigração, reflexo da política anti-imigração do governo Trump. Com menos trabalhadores disponíveis, há impacto direto nos números de empregabilidade.
O Fed observou ainda ganhos de produtividade, o que tem ajudado a moderar os custos unitários de mão de obra, mesmo diante de salários mais altos.
Inflação persiste acima da meta e mantém pressão sobre o Fed
A inflação anualizada de setembro ficou próxima de 3%, acima da meta de 2%. Segundo o comitê, a atividade econômica segue em ritmo moderado e o mercado de trabalho mostra sinais de desaceleração, embora ainda sólido.
Powell afirmou que as tarifas comerciais impostas pelo governo Trump devem gerar impactos adicionais nos próximos meses, mas não mudam o cenário-base do Fed, que busca equilibrar o combate à inflação e a manutenção do emprego.
O ciclo de cortes sob o governo Trump
Este foi o segundo corte de juros desde o início do governo Donald Trump, em janeiro de 2025. Antes disso, o Fed havia realizado três cortes consecutivos a partir de setembro de 2024, após manter as taxas inalteradas por cinco reuniões.
Entre março de 2022 e maio de 2023, o banco central elevou os juros de níveis próximos de zero para 5,25%–5,50%, visando controlar a inflação pós-pandemia. A reversão desse aperto começou somente em 2024.
Relação entre Trump e Powell permanece tensa
A relação entre Donald Trump e Jerome Powell continua marcada por atritos. Embora Trump tenha nomeado Powell, posteriormente criticou fortemente as altas de juros de seu primeiro mandato.
Em julho de 2025, Trump voltou a atacá-lo, afirmando que as famílias estavam sendo prejudicadas por juros altos. Em outubro, intensificou as críticas e disse estar aliviado pelo fim do mandato de Powell, previsto para maio de 2026.
O presidente já declarou que não pretende reconduzi-lo, o que adiciona incerteza ao futuro da política monetária.
Perspectivas divididas para os próximos meses
Analistas exibem cenários divergentes. Alguns projetam até três cortes adicionais em 2025. Outros avaliam que o espaço para novas reduções é cada vez menor.
A projeção mais otimista aponta juros entre 3,5% e 3,75% em dezembro, mas isso depende da evolução da inflação e do mercado de trabalho. O próprio Powell sinalizou que a economia pode estar próxima da taxa neutra, o que justificaria uma pausa em dezembro e eventuais cortes apenas em 2026.
Além disso, os efeitos das medidas tarifárias do governo Trump ainda precisam ser avaliados, reforçando a postura de cautela.
Reações nos mercados financeiros
As falas de Powell provocaram ajustes rápidos nos mercados globais. Em Nova York, Wall Street perdeu força durante a coletiva. No Brasil, o Ibovespa reduziu ganhos e o dólar voltou a subir.
Antes da coletiva, o mercado atribuía 85,4% de chance a um novo corte em dezembro. Após as declarações, essa probabilidade caiu para 65%. O dólar chegou à máxima de R$ 5,3671, refletindo a incerteza sobre o futuro dos juros americanos.
Conclusão
A decisão de outubro de 2025 evidencia um Fed mais dividido e prudente, pressionado por inflação persistente, limitações de dados e tensões políticas. As falas de Powell reforçam que cada reunião será determinada pelos indicadores disponíveis, sem trajetória pré-estabelecida.
Com vários fatores em jogo — inflação resistente, relação turbulenta com Trump e impacto das tarifas — o cenário para a política monetária dos EUA permanece volátil. Os próximos meses devem trazer novas revisões de expectativas e movimentos intensos nos mercados financeiros.
Fonte: InfoMoney, B3, Metrópoles, Trading Economics, Investing













